A gestão do prefeito Valderico Júnior segue firme na sua promessa de "renovação", mas a grande dúvida que fica para a população é: renovação para quem? Depois de decretar estado de emergência, justificando problemas herdados da administração anterior, o prefeito parece não ter dificuldades em gastar dinheiro público sem concorrência, escolhendo diretamente empresas para contratos milionários.
O mais recente exemplo é a contratação da GRADUS ASSESSORIA E CONSULTORIA CONTÁBIL, uma empresa de Salvador, por meio de inexigibilidade de licitação, ou seja, sem concorrência, por um valor impressionante de R$ 996.000,00. Segundo o contrato, a empresa será responsável por assessoria contábil, planejamento e orçamento para a Prefeitura de Ilhéus.
A pergunta que surge é: por que a Prefeitura, que já tem um quadro de contadores e servidores pagos com dinheiro público, precisa gastar quase R$ 1 milhão para contratar uma consultoria de outra cidade?
Estado de emergência, mas só para gastar sem licitação?
A justificativa do decreto de emergência era a precariedade deixada pela gestão anterior e os bloqueios judiciais. No entanto, os números mostram que a cidade arrecada mais de R$ 600 milhões por ano, segundo o Portal da Transparência. Ou seja, dinheiro há, mas a prioridade parece ser outra.
Se há necessidade de assessoria, por que não fazer uma licitação transparente, permitindo que mais empresas concorram e garantindo o melhor preço? A resposta pode estar na velha prática do "toma lá, dá cá", tão comum na política brasileira.
Além disso, a empresa contratada não é a única ligação do governo Valderico Jr. com Salvador. A superintendente de comunicação da Prefeitura, Naianne Ministro, também veio da capital baiana, assim como seu marido, Anselmo Duarte Brito dos Santos Júnior, que ocupa o cargo de assessor técnico especial vinculado ao gabinete do prefeito.
A pergunta que fica é: quantos mais contratos e contratados virão de Salvador? Estaria o prefeito Valderico Jr. fortalecendo o grupo do ex-prefeito de Salvador, ACM Neto, líder político do União Brasil, partido do prefeito? Enquanto isso, Ilhéus segue enfraquecida, sem investimentos diretos em empresas e profissionais da própria cidade.
Se a justificativa fosse realmente a falta de pessoal qualificado na Prefeitura, não seria mais justo dar agilidade ao concurso público iniciado na gestão anterior? Ou, pelo menos, abrir uma licitação, permitindo que empresas de Ilhéus tivessem chance de disputar o contrato? Ou será que não existem empresas contábeis de qualidade na cidade?
Enquanto a Prefeitura continua escoando dinheiro para Salvador, a população segue sem transporte público decente, postos de saúde sem médicos e ruas esburacadas. Mas, aparentemente, o mais urgente para o governo Valderico Jr. é garantir quase um milhão para uma consultoria.
A grande questão é: a renovação que prometeram era para fazer o novo ou para repetir os mesmos velhos hábitos que levaram seu pai ao impeachment?
Se seguir nesse ritmo, Valderico Jr. pode não durar muito tempo no cargo. Afinal, improbidade administrativa já derrubou outros prefeitos, e o Ministério Público está de olho.
Talvez seja melhor ficar atento, porque, ao invés de renovação, pode acabar renovando sua defesa jurídica. E, se continuar assim, a qualquer momento pode acordar com os carros da PF na porta.
Matéria publicada pelo site Novas Notícias. Redator: David Reis, presidente da Associação de Veículos de Comunicação Sem Audiência.